por Kamilla Gabrielli, Monique Rodrigues e Matheus Ribeiro
“Diz pra eu ficar muda
Faz cara de mistério,
Tira essa bermuda
Que eu quero você sério,
Tramas do sucesso
Mundo particular
Solos de guitarra
Não vão me conquistar
Uh! eu quero você
Como eu quero!”
Esses são versos daquela que talvez seja a música mais
conhecida da banda. Sim, estamos falando deles, o Kid Abelha, ou para os mais antigos o Kid Abelha e as Abóboras Selvagens, ou apenas Kid, para os fãs. O próprio Caetano Veloso já declarou que sua
música ‘Não Enche’ foi feita em resposta à música Como Eu Quero. A banda é
a que mais possui hits radiofônicos, chegando a mais de 30 músicas
bem-executadas.
Desde os anos 80,
o Kid Abelha é um dos grupos mais presentes nas rádios brasileiras. No início
do sucesso, era formado pelo vocalista e compositor Leoni, a também vocalista
Paula Toller (que foi sua namorada), o saxofonista George Israel e o
guitarrista Bruno Fortunato. Mas Leoni acabou deixando o grupo. A banda surgiu
em 1981 como Kid Abelha e os Abóboras Selvagens e estourou na rádio Fluminense
FM com Distração. O seu compacto de estreia, de 1983, levou o nome do
hit Pintura
Íntima (também conhecida como ‘Fazer Amor de Madrugada’). No ano
seguinte, novos sucessos: Por Que Não Eu? e Como
Eu Quero. As músicas entraram no primeiro álbum da banda, Seu
Espião – que trouxe ainda Fixação. Paula e seus colegas se
apresentaram no Rock In Rio I, em 1985, numa experiência que os próprios
integrantes da banda chamam de ‘ensaio para o show-business’. Nos anos 90 a
regravação do sucesso Na Rua, Na Chuva, Na Fazenda
acompanhou o sucesso de outros hits como Te Amo Pra Sempre e Eu
Tive Um Sonho. Nos anos 2000 o álbum Kid Abelha Acústico MTV (que
trouxe duas faixas inéditas e três regravações inéditas) ficou por dois anos
entre os 10 CDs/DVDs mais vendidos do país, ficando em décimo primeiro em 2005.
Nada
Sei e Quero Te Encontrar se tornaram mega-hits top 10. Com o tempo, o
Kid Abelha se acostumou ao sucesso com músicas como Só Penso em Você, Nada
Por Mim e Amanhã É 23.
Em 2012 a banda
completou 30 anos, com direito a turnê e show de homenagem no Multishow. Em
meio a tanto sucesso e tantos hits, há também uma geração de fãs que amadureceu
com a banda no decorrer desses trinta anos. Fãs que fizeram parte da louca
juventude dos anos 80, ou mesmo nasceram depois, nos anos 90 e 2000, mas
acabaram se apaixonando pela incrível sonoridade de nossas abelhas. Imagine
você quantos amantes, que procuram evitar comparações entre flores e
declarações e tentam esquecer Os Outros, deixaram de dizer tudo
tão depressa e fazer tudo tão depressa, e nem exageraram na dose só para viver
um amor Grand Hotel.
Imagine você
quantas pessoas pediram para que Alice não escrevesse aquela carta de
amor, afinal tantos sonhos morrem em poucas palavras. Imagine você quantas
pessoas perderam o sono ao ver Lágrimas e Chuva molhando o vidro de
suas janelas.
Imagine você
quantas pessoas, que só tem tempo pras manchetes no metrô, passam No
Meio da Rua com suas ‘caras de santas’, afinal elas têm pressa e tanta
coisa os interessa, mas Nada Tanto Assim.
Imagine quantos corações
apaixonados já precisaram de uma Educação Sentimental, pois não
aprenderam na escola e ninguém podia lhes dizer aonde encontrar A
Fórmula do Amor.
O legado do Kid
Abelha dessa banda que é um tesouro da música popular nacional e um prato cheio
para os amantes da boa música, não se resume apenas às suas canções. É muito
mais que isso. São histórias, são vidas, são reflexões, são amores, são
paixões, são lágrimas, são decepções, são experiências, são 30 anos. O texto da jornalista Mônica Waldvogel, que
fez parte da abertura do show Kid Abelha 30 Anos, explica tudo.
"Trinta anos não
acontecem assim, da noite para o dia. Mas acontecem, sim. Conte onze mil dias e
multiplique por vinte e quatro horas vezes sessenta minutos e é uma vida
inteira, um bom pedaço dela, o melhor de todos. Faça um marco e comece as contas.
Escolha um ponto. Esse aí, quando a música do rádio pegou a gente distraída e
uma voz, uma batida, um refrão entrou na vida da gente para sempre. Faça outro
marco no dia em que viu a dona da voz. Aquele louro, aquele rosto, aquele azul
- e faz de conta que a vida então começou. Quantos contos de mil e uma noites
embalaram você no suspense do seu quarto? Pois é, trinta anos depois amores se
foram, vieram outros. E também grandes batalhas, espaços abertos, bandeiras
fincadas, terreno perdido, território conquistado. Tanta gente vindo junto com
suas lutas de cada dia, uma geração, os filhos dela. A mesma língua, a mesma
escala, as mesmas notas que cantamos enquanto espelhos mostram o mesmo branco,
o mesmo cinza, os mesmos anos. Trinta, ao todo, foram passando. E ela lá,
aquele louro, aquele azul, aquele tom. Nunca nada muda - para nosso conforto e
para nossa delícia, para o futuro das nossas velhas fantasias. Abelha entre
kids, abóboras para nós, selvagens devoradores de mitos. Esses que salvam nosso
mundo particular com as tramas do sucesso em que nos enredamos, conquistados,
durante trinta anos. Nesse canto, nesse tema, nesse louro. Mas...deixe as
contas que no fim das contas, é ver se entende a minha pressa. Minha distração.
Minha fixação. A hora é essa. A cada madrugada, a virada que aprendemos a fazer
porque nos foi dado viver ao mesmo tempo, nesse tempo, nessa era. Trinta
anos."
Para terminar, que o fim
seja como o início. Acabaremos com versos de uma música da banda, desta vez,
versos que na plenitude de seu significado resumem o que é Kid Abelha.
“Sempre vai haver uma canção
contando tudo de mim.
Sempre vai haver uma voz
cantando tudo,
tudo de nós.”