Heterônimo é uma personagem de origem
fictícia. É criada por escritores, com o objetivo de propagar a realidade de
diferentes jeitos.
Assim, cada
heterônimo contem uma biografia própria, um estilo específico,
uma singularidade em seus temas. Podemos dizer que são frações dentro de
um escritor, que se divide em outros com ideias e pensamentos diferentes, para
assim dizer o que sente, o que realmente pensa, e transmitir suas ideias. Talvez, seja como se o escritor tivesse sua essência,
porém para demonstrá-la ele coloca uma máscara para escrever as suas ideias.
É muito mais
do que assinar sua obra com algum apelido ou outro nome. É como se essa parte
tivesse realmente vida própria, pensamento próprio, um mundo idealizado,
diferente do que o escritor normalmente escreve em suas prosas ou versos.
Imagine um caleidoscópio, um tubo
cilíndrico com espelhos no interior que refletem imagens em múltiplas
combinações, em objetos coloridos que estão fixados no fundo. Já no campo literário,
caleidoscópio seria um poeta como o tubo cilíndrico, e em seu interior teriam
as combinações, no caso sua imaginação para criar formas assim surgiria os heterônimos,
como se fosse projeções de vários escritores, porém todos partem de um mesmo
cilindro, ou seja, o criador dos heterônimos.
No Brasil, temos um matemático e
escritor que foi um dos maiores divulgadores da matemática em nosso país, o
Malba Tahan que é um heterônimo criado pelo Júlio Cesar de Mello e Souza.
Temos outro exemplo em nossa literatura
de um grande escritor do Modernismo português, Fernando Pessoa que não escrevia
apenas, criava escritores. Ele possuía muitos heterônimos, Ricardo Reis, Álvaro
de Campos, Bernardo Soares, entre outros. Um dos mais conhecidos é o Alberto
Caeiro, que é o mestre de todos os outros heterônimos, inclusive de seu criador,
Fernando Pessoa.
Quem sabe a ideia de heterônimos
fique entendida pela explicação de Fernando Pessoa que define este processo
numa carta que escreveu ao poeta e crítico Casais Monteiro:
“[...] Vou entrar na gênese dos meus
heterônimos literários, que é afinal o que V. quer saber. [...]
Aí
por 1912, salvo erro [...] veio-me à idéia escrever uns poemas de índole pagã.
Esbocei umas coisas em verso irregular [...] e abandonei o caso.
Esboçara-se-me, contudo, uma penumbra mal urdida, um vago retrato de pessoa que
estava a fazer aquilo. (Tinha nascido, sem que eu soubesse, o Ricardo Reis.)
Ano
e meio, ou dois anos depois, lembrei-me um dia de fazer uma partida ao
Sá-Carneiro – de inventar um poeta bucólico [...]. Levei uns dias a elaborar o
poeta mas nada consegui. Num dia em que finalmente desistira - foi em 8 de
março de 1914 – acerquei-me de uma cômoda alta e, tomando um papel, comecei a
escrever, de pé, como escrevo sempre que posso. E escrevi trinta e tantos poemas
a fio, numa espécie de êxtase cuja natureza não conseguirei definir. Foi o dia
triunfal da minha vida, e nunca poderei ter outro assim. Abri com um título –
“O Guardador de Rebanhos”. E o que se seguiu foi o aparecimento de alguém em
mim, a quem dei desde logo o nome de Alberto Caeiro. Desculpe-me o absurdo da
frase: aparecera em mim o meu mestre. Foi essa a sensação imediata que tive. E
tanto assim que, escritos que foram esses trinta e tantos poemas,
imediatamente, peguei noutro papel e escrevi, a fio, também, os seis poemas que
constituem a “Chuva Oblíqua”, de Fernando Pessoa. Imediatamente e totalmente...
Foi o regresso de Fernando Pessoa Aberto Caeiro a Fernando Pessoa ele só. Ou
melhor, foi a reação de Fernando Pessoa contra a sua inexistência como Alberto
Caeiro.
Aparecido
Alberto Caeiro, tratei logo de lhe descobrir – instintiva e subconscientemente
– uns discípulos. Arranquei do seu falso paganismo o Ricardo Reis latente,
descobri-lhe o nome, e ajustei-o a si mesmo, porque nessa altura já o via. E,
de repente, e em derivação oposta à de Ricardo Reis, surgiu-me impetuosamente
um novo indivíduo. Num jato, e à máquina de escrever, sem interrupção nem
emenda, surgiu a “Ode Triunfal” de Álvaro de Campos – a Ode com esse nome e o
homem com o nome que tem.
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Como
escrevo em nome desses três?... Caeiro por pura e inesperada inspiração, sem saber
o sequer calcular o que iria escrever. Ricardo Reis depois de uma deliberação
abstrata, que subitamente se concretiza numa ode. Campos quando sinto um
impulso para escrever e não sei o quê. [...]”
Como os heterônimos possuem vida
própria, já que possuem biografias, estilos e temáticas que lhes pertencem,
enviaram-nos contos e poemas. Sim essa semana aparecerá contos e poemas de
alguns heterônimos que o Editorial Alfa recebeu.
Aryana Frances
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