por Jean Rodrigo García Lancelot
I
O que
sou?
Não sei
exatamente,
Procuro
descobrir todos os dias,
Tento,
mas nada encontro.
Queria
alguma definição
Exata
para tal questão.
Talvez, o
que eu gosto,
Ajude a
me definir.
Parando
para refletir,
Gosto de
muitas coisas.
Não seria
fácil, encontrar
Palavras
para conceitualizar
Minha
essência,
Assim,
dizer o que sou.
II
Não sei o
que sou
Apenas de
meus gostos
E algumas
preferências.
Desejo
coisas
Mas elas
não me conceitualizam
Ou
determinam o que sou.
III
Frações
de mim
Estão por
ai aos montes,
Não faço
ideia onde se encontram,
Talvez,
no passado e com minhas vivências
Ou será
que no presente e nas minhas ações?
Quem sabe
no futuro?
Acredito
que essas frações
Não
estejam apenas relacionadas ao tempo,
Em meus
pertences
E meus
gostos e preferências.
São
pedaços,
E isso me
compõe
Parte por
parte
Até me
completar
E eu ser
eu mesmo
Inteira,
sem fragmentos.
É como se
olhar no espelho,
Você vê
uma parte de você,
Mas por
dentro, a realidade é outra,
Essa é a
minha busca.
[...]
IX
Posso ser
tudo o que vivi?
Eu seria
um museu,
Ficando
apenas com as recordações,
E jamais
saberia como eu terminaria.
Então,
não posso ser o que vivi.
Mas o que
vivi, precisa servir para algo,
Não é
possível fazer algo
E
deixa-lo lá no vazio ou no esquecimento.
Senão, eu
não viveria, não faria sentido existencial.
Portanto
o passado não é o que sou,
Entretanto,
pode ser parte do que sou,
Mas não
sei o que é exatamente.
Já que
posso ser muitas coisas
E não ser
nada.
Logo, o
passado é uma fração
Que me
pertence e que reage sobre o meu ser.
E possui
ideias e crenças próprias interferindo no que sou.
X
Lembrei-me
de quando era criança,
Tudo o
que desejara era ser adulto
Agora
vejo o quão difícil é,
Nesse
mundo não sabemos o que somos,
Só que
temos que viver pelo tempo.
XI
Tive
outra recordação,
Era uma
noite, eu tinha a pessoa amada
Em meus
braços, era mágico tê-la.
Sentir
seus músculos, o palpitar de seu coração,
A emoção
da qual se encontrara,
E o mais
importante,
Ela
estava lá por mim,
Não sabia
o que eu era, mas queria ser aquilo para todo o sempre.
XII
Os
romances mais lindos,
As
paixões mais carnais,
Vivi tudo
de forma intensa,
Como se
fora o último dia de minha vida,
Cada
parte do meu ser vibrante
Desejara
aquilo para o resto da vida,
Pois
pensara que teria com quem compartilhar os meus sentimentos.
Os
sentimentos seria uma boa resposta
Para
saber o que de fato sou,
Já que
ele nos define bem.
Mas, os
sentimentos são um estado de um ser,
Então
eles não me definiriam
A todo
tempo com a mesma resposta.
Poderia
eu ser a todo tempo um ser diferente?
Quem
sabe, a essência, talvez, seja a mesma,
Porém com
ideias e opiniões diferentes,
Além de
que, não podemos esquecer que os sentimentos não são elementos fixos,
É um
estado, logo, pode ser momentâneo ou
Durar um
longo tempo,
E ir
embora do dia para a noite.
XIII
Posso ser
muitas coisas,
Assim
teria muitas definições do meu ser,
Como
posso ser coisas se eu não sei o que sou?
E se eu
for um ser de apenas uma definição?
Logo não
poderia ser mais coisas,
Seria
uma.
XIV
Só posso
ser o que está em contínua transformação,
Assim,
vivo e nem sinto a constância.
Não sinto
nada, apenas o tempo passando
E tirando
as minhas possibilidades
De ter
minhas respostas,
Para de
fato saber quais são as minhas razões.
Sou o que
faço e vivo,
Sou o
presente e só.
A
princípio, eu acreditara
Que
estava certo sobre isso,
Mas não
estou.
Tudo o
que se vive no presente,
Precisa
de algo que o preceda.
[...]
XXI
Então,
fiz uma descoberta incrível,
Ao fechar
os olhos, sabia o que era,
Pensar é
ser.
Com os
olhos fechados eu sabia o que de fato era,
Quando se
observa e senti, somos enganados,
Pelos
sentidos e aparências de um mundo imperfeito.
Além de
tudo o que vemos, ouvimos e sentimos,
Seja de
fato o essencial para existirem e serem.
Mas para
os seres pensantes, ao fechar os olhos,
Saímos de
todo o universo inflexível e imperfeito,
E sabemos
o que somos, mas não podemos sentir e nem observar.
XXII
Pensar é
ser, de fato, pode ser simples,
Mas é
essencial fechar os olhos, só assim,
Repito,
só assim, saberá de fato o que tudo é.
Quando estamos usando dos cinco sentidos
Somos
enganados pelas próprias sensações.
Mas
sabemos o que todas as coisas são,
Elas são
o que vemos e não podem ser
Mais
nada, já que não podem fechar os olhos.
Talvez,
em um plano metafísico nos encontremos com as coisas,
E poderei
ter mais visões e ideias sobre elas,
Que
quando as vejo, escuto, sinto, degusto ou cheiro,
Já que esses
sentidos quando usados
Dão-me
uma perspectiva, apenas.
XXIII
É tão
simples, que na prática
Resolvi
fazer, para saber se detinha
Validade
e se era real a aplicação.
Com os
olhos abertos, observei tudo ao redor,
Tinha
certeza do que tudo era,
Menos de
mim mesma.
[...]
XXVI
O passado
era um aprendizado
E
necessário para o presente,
Servindo
como um manual
Para
mudar o futuro.
Então era
obrigado a viver o meu passado,
Assim
teria as consequências ou ações da vida,
Para
alterar o futuro, se fosse necessário.
XXVII
Como o
ser é composto de muitas coisas,
Tanto
boas e ruins, passara por decepções e glórias.
Sofrera
mas também iludira, porém tudo aquilo vivera.
Tinha que
ter sentimentos e usar os sentidos,
Pois eles
eram a minha essência,
Fragmentos
de tudo o que me compõe
E me faz
ser o que sou.
Jean Rodrigo García Lancelot
Jean Rodrigo García Lancelot nasceu em 1900 foi um filósofo paulista.
Sua descendência é francesa, era de família abastada, logo, tinha tempo para
dedicar-se à poesia.
Jean nasceu no Brasil, pois a viagem que seus pais fizeram foi longa e
cansativa, sua mãe teve enjoos e decidiu ficar, seu pai retornara para tomar
conta de suas posses depois que o filho nascera.
Jean adaptou-se ao Brasil, lugar de onde não quis sair, sua mãe ficou
com seu filho, para garantir que ele teria uma boa educação, até os seus quinze
anos. Acabou por convencê-lo a estudar na França, e em seguida na Inglaterra.
Lugares que o marcaram, por consequência marcaram a sua escrita.
Mesmo de família rica, Jean Rodrigo acreditava que tudo poderia ser
simplificado, que o ser estava complicando a essência da vida, a partir das
tecnologias que criava, ou seja, conforme a Revolução Industrial progredia, o
ser regredia, dificultava o caminho de sua existência.
Em sua curta vida deixou uma obra que não conseguira concluir
“Fragmentos do que sou” em que deixa as sua ideias sobre o que o ser é.
Rodrigo morreu de forma, um tanto que, inusitada. Um dia o jovem com
seus 25 anos fora passar uma temporada no Brasil, decidiu nadar em uma de
nossas praias, porém esqueceu-se que não sabia nadar, acabou por afogar-se, e
quando lhe prestaram algum socorro, já era tarde.