domingo, 11 de novembro de 2012

Fragmentos do que sou

por Jean Rodrigo García Lancelot

I
O que sou?
Não sei exatamente,
Procuro descobrir todos os dias,
Tento, mas nada encontro.
Queria alguma definição
Exata para tal questão.

Talvez, o que eu gosto,
Ajude a me definir.
Parando para refletir,
Gosto de muitas coisas.
Não seria fácil, encontrar
Palavras para conceitualizar
Minha essência,
Assim, dizer o que sou.

II
Não sei o que sou
Apenas de meus gostos
E algumas preferências.

Desejo coisas
Mas elas não me conceitualizam
Ou determinam o que sou.

III
Frações de mim
Estão por ai aos montes,
Não faço ideia onde se encontram,
Talvez, no passado e com minhas vivências
Ou será que no presente e nas minhas ações?
Quem sabe no futuro?

Acredito que essas frações
Não estejam apenas relacionadas ao tempo,
Em meus pertences
E meus gostos e preferências.
                       
São pedaços,
E isso me compõe
Parte por parte
Até me completar
E eu ser eu mesmo
Inteira, sem fragmentos.

É como se olhar no espelho,
Você vê uma parte de você,
Mas por dentro, a realidade é outra,
Essa é a minha busca.
[...] 
IX
Posso ser tudo o que vivi?
Eu seria um museu,
Ficando apenas com as recordações,
E jamais saberia como eu terminaria.
Então, não posso ser o que vivi.

Mas o que vivi, precisa servir para algo,
Não é possível fazer algo
E deixa-lo lá no vazio ou no esquecimento.
Senão, eu não viveria, não faria sentido existencial.
Portanto o passado não é o que sou,
Entretanto, pode ser parte do que sou,
Mas não sei o que é exatamente.
Já que posso ser muitas coisas
E não ser nada.

Logo, o passado é uma fração
Que me pertence e que reage sobre o meu ser.
E possui ideias e crenças próprias interferindo no que sou.

X
Lembrei-me de quando era criança,
Tudo o que desejara era ser adulto
Agora vejo o quão difícil é,
Nesse mundo não sabemos o que somos,
Só que temos que viver pelo tempo.

XI
Tive outra recordação,
Era uma noite, eu tinha a pessoa amada
Em meus braços, era mágico tê-la.
Sentir seus músculos, o palpitar de seu coração,
A emoção da qual se encontrara,
E o mais importante,
Ela estava lá por mim,
Não sabia o que eu era, mas queria ser aquilo para todo o sempre.

XII
Os romances mais lindos,
As paixões mais carnais,
Vivi tudo de forma intensa,
Como se fora o último dia de minha vida,
Cada parte do meu ser vibrante
Desejara aquilo para o resto da vida,
Pois pensara que teria com quem compartilhar os meus sentimentos.
Os sentimentos seria uma boa resposta
Para saber o que de fato sou,
Já que ele nos define bem.
Mas, os sentimentos são um estado de um ser,
Então eles não me definiriam
A todo tempo com a mesma resposta.
Poderia eu ser a todo tempo um ser diferente?
Quem sabe, a essência, talvez, seja a mesma,
Porém com ideias e opiniões diferentes,
Além de que, não podemos esquecer que os sentimentos não são elementos fixos,
É um estado, logo, pode ser momentâneo ou
Durar um longo tempo,
E ir embora do dia para a noite.

XIII
Posso ser muitas coisas,
Assim teria muitas definições do meu ser,
Como posso ser coisas se eu não sei o que sou?
E se eu for um ser de apenas uma definição?
Logo não poderia ser mais coisas,
Seria uma.

XIV
Só posso ser o que está em contínua transformação,
Assim, vivo e nem sinto a constância.
Não sinto nada, apenas o tempo passando
E tirando as minhas possibilidades
De ter minhas respostas,
Para de fato saber quais são as minhas razões.

Sou o que faço e vivo,
Sou o presente e só.
A princípio, eu acreditara
Que estava certo sobre isso,
Mas não estou.

Tudo o que se vive no presente,
Precisa de algo que o preceda.
 [...] 
XXI
Então, fiz uma descoberta incrível,
Ao fechar os olhos, sabia o que era,
Pensar é ser.

Com os olhos fechados eu sabia o que de fato era,
Quando se observa e senti, somos enganados,
Pelos sentidos e aparências de um mundo imperfeito.
Além de tudo o que vemos, ouvimos e sentimos,
Seja de fato o essencial para existirem e serem.
Mas para os seres pensantes, ao fechar os olhos,
Saímos de todo o universo inflexível e imperfeito,
E sabemos o que somos, mas não podemos sentir e nem observar.

XXII
Pensar é ser, de fato, pode ser simples,
Mas é essencial fechar os olhos, só assim,
Repito, só assim, saberá de fato o que tudo é.

Quando estamos usando dos cinco sentidos
Somos enganados pelas próprias sensações.
Mas sabemos o que todas as coisas são,
Elas são o que vemos e não podem ser
Mais nada, já que não podem fechar os olhos.

Talvez, em um plano metafísico nos encontremos com as coisas,
E poderei ter mais visões e ideias sobre elas,
Que quando as vejo, escuto, sinto, degusto ou cheiro,
Já que esses sentidos quando usados
Dão-me uma perspectiva, apenas.

XXIII
É tão simples, que na prática
Resolvi fazer, para saber se detinha
Validade e se era real a aplicação.

Com os olhos abertos, observei tudo ao redor,
Tinha certeza do que tudo era,
Menos de mim mesma.
[...] 
XXVI
O passado era um aprendizado
E necessário para o presente,
Servindo como um manual
Para mudar o futuro.

Então era obrigado a viver o meu passado,
Assim teria as consequências ou ações da vida,
Para alterar o futuro, se fosse necessário.

XXVII
Como o ser é composto de muitas coisas,
Tanto boas e ruins, passara por decepções e glórias.
Sofrera mas também iludira, porém tudo aquilo vivera.
Tinha que ter sentimentos e usar os sentidos,
Pois eles eram a minha essência,
Fragmentos de tudo o que me compõe
E me faz ser o que sou.


Jean Rodrigo García Lancelot

Jean Rodrigo García Lancelot nasceu em 1900 foi um filósofo paulista. Sua descendência é francesa, era de família abastada, logo, tinha tempo para dedicar-se à poesia.
Jean nasceu no Brasil, pois a viagem que seus pais fizeram foi longa e cansativa, sua mãe teve enjoos e decidiu ficar, seu pai retornara para tomar conta de suas posses depois que o filho nascera.
Jean adaptou-se ao Brasil, lugar de onde não quis sair, sua mãe ficou com seu filho, para garantir que ele teria uma boa educação, até os seus quinze anos. Acabou por convencê-lo a estudar na França, e em seguida na Inglaterra. Lugares que o marcaram, por consequência marcaram a sua escrita.
Mesmo de família rica, Jean Rodrigo acreditava que tudo poderia ser simplificado, que o ser estava complicando a essência da vida, a partir das tecnologias que criava, ou seja, conforme a Revolução Industrial progredia, o ser regredia, dificultava o caminho de sua existência.
Em sua curta vida deixou uma obra que não conseguira concluir “Fragmentos do que sou” em que deixa as sua ideias sobre o que o ser é.
Rodrigo morreu de forma, um tanto que, inusitada. Um dia o jovem com seus 25 anos fora passar uma temporada no Brasil, decidiu nadar em uma de nossas praias, porém esqueceu-se que não sabia nadar, acabou por afogar-se, e quando lhe prestaram algum socorro, já era tarde.

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