quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Partida penosa

por Aryana Frances


 Como era de rotina, chegava à noite depois de um dia frenético de trabalho, e sempre descia para a adega, onde passava a maior parte tempo, levara uma poltrona para lá. A cada noite, era uma experiência nova, sabia que o fim estava próximo, mas sentia meu corpo pesado, a mente leve e alma esperando por isso, incansavelmente.
Havia ficado repetitivo, mas a magoa era imensa e se intensificava toda noite naquela adega, fazendo com que eu nem me importasse em continuar sofrendo, já que esperara o meu fim.
Só queria deixar de existir, por sofrer, mas fizera algo pior, arruinara o sentimento de uma pessoa que muito amei, e desde então, tudo perdera o sentido, e não sabia como prosseguir à vida, ou fazer algo simples, como sorrir. Sentira que não existia mais, só meu corpo se movimentava a espera de sua partida que demorava a chegar, mas tinha como companheira as bebidas da adega.
A mente e alma já tinham abraçado a morte como amiga íntima, já que esperava em desalento, mas o fim não parecia próximo.
E quando, ainda, estava sóbrio, o pensamento era em tudo o que mais amei, mas o que me restara, recordações, de que um dia fora feliz, de nossos corpos juntos, lado a lado, de sonhos que fizemos. E agora tudo o que tinha era a solidão, resultado de minhas atitudes e escolhas.
Passara a ter desvarios frequentes, certa noite, quando estava sentado em minha poltrona, vi um anjo triste, com asas pretas, e um olhar tão deprimente, que me fizera sentir uma dor que nunca tive, de repente, não sentia mais nada, pulsação ou o meu próprio exalar e fui à direção ao anjo, o meu fim chegara.


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