sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Preparamos nossos alunos para quê, afinal?



por Luciano Melo
O sistema de ensino do 6º PIB mundial anda mal. Muito mal. Nesta semana, o Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) divulgou os resultados obtidos em 2011 de todo o país. Segundo dados presentes no editorial da Folha de São Paulo de ontem, 16 de agosto, o Fundamental I (até o 5º ano) atingiu 5,0 no ano passado, crescendo 0,4 em relação aos 4,6 de 2009. Já no Fundamental II (5º ao 9º ano), o progresso em relação à última mostra foi de 0,1 ponto (4,0 a 4,1). Também no Ensino Médio os números continuam acanhadíssimos: de 3,6 para 3,7. Dez estados brasileiros regrediram em desempenho e sete não atingiram o mínimo exigido. Aliás, só para lembrar: a escala de base do Ideb é de 0 a 10, e a média dos países desenvolvidos é de 6 pontos.
Diante de pífias amostras, o ministro da Educação, Aluízio Mercadante, pretende propor uma reorganização no Ensino Médio brasileiro. O ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) passará a nortear o currículo na última etapa de ensino da educação básica, reagrupando as diversas disciplinas da grade nos quatro eixos temáticos exigidos na prova nacional. Desta forma, “Ciências humanas e suas tecnologias” abrigará as disciplinas de História, Geografia Filosofia e Sociologia; “Ciências da natureza e suas tecnologias”, Química, Física e Biologia; “Linguagens, códigos e suas tecnologias”, Língua Portuguesa, Inglês, Espanhol, Arte e Educação Física; e “Matemática e suas tecnologias”, apenas Matemática. A ideia desafiadora é promover a integração das diversas áreas do conhecimento em objetos de estudo comuns, bem diferente da estruturação curricular estanque nos dias atuais. O Ministério da Educação prevê até o final de 2012 as discussões necessárias à implantação do novo projeto para o Ensino Médio e encaminhar, ainda neste ano, ao parecer do CNE (Conselho Nacional da Educação).
Com estas medidas, enfim, o Ministério da Educação parece observar a Educação Básica do Brasil. Sabemos que cabem aos estados a autonomia na organização e implantação do Ensino Médio, como aos municípios, o Ensino Fundamental. Mas era no mínimo incompreensível o desprezo do órgão mor do ensino no Brasil relegar apenas ao CNE a vistoria no período crucial do ensino ao indivíduo, momento de sua maturação social e intelectual. Claro que as ações do ministério à maior demanda no oferecimento de vagas no ensino superior, como o PROUNI - Programa Universidade para Todos, SISU - Sistema de Avaliação Unificada, FIES - Financiamento Estudantil no Ensino Superior etc., são extremamente válidas, embora tenhamos problemas gravíssimos no ensino superior, como os dados do Sinae (Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior) que apontam desempenho abaixo do esperado nas inúmeras instituições universitárias espalhadas pelo território brasileiro ou a vexatória e interminável greve das universidades federais, arruinando qualquer amostragem na educação de excelência do país.
Porque ao se observar o problema nacional do Ensino Médio abalizado pelo Ideb de 2011, a educação inicial deve merecer "olhos" mais atentos da União. Os estados não são cobrados a sério pela evasão ou defasagem de aprendizado no ensino de base, quer seja Infantil, Fundamental ou Médio. A universidade pública cobra dos estados o déficit de aprendizagem dos ingressantes recém-formados no Ensino Médio, que por sua vez cobram dos municípios o atraso educacional nos Ensinos Infantil e Fundamental I e II. E este círculo vicioso será refletido na abundante oferta de vagas da União no ensino superior ou profissional, pois se ampliam as oportunidades de ingresso, mas penam na baixa qualidade de base educacional. 
Cada um, municípios, estados e União, à sua maneira, administram e divulgam os resultados de seus respectivos sistemas de ensino.
Talvez por isso o piso salarial do professor, sancionado ainda no governo Lula, ainda não seja cumprido por muitos estados e municípios.
Porque cada um governa à sua maneira. Sem nos levar a sério.
E preparamos nossos alunos para quê, afinal?

1 comentários:

Claudio Domingos Fernandes disse...

A pergunta com que encerra o texto, é a pergunta que me faço desde que me conheço educador!
Se de fato a escolarização é um dos eixos de inserção social, de preparação para o mundo do trabalho e da participação política nas decisões do país, um modelo minimo de sociedade deveria permear a vida escolar. Para a sociedade que temos consumista,consumidora, votada ao culto da Fama instatânea, mudará pouco qualquer reestruturação do ensino público. Comecemos, então, a perguntar: Que País e que qualidade de individuos quremos como cidadão a médio e longo prazo queremos? É preciso sabermos que sociedade queremos, para sabermos que cidadão formar. Os resultados do IDEB, me parece, apenas explime o que se quis até agora.

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