segunda-feira, 8 de agosto de 2011

TRANSCRIÇÃO DA ENTREVISTA COM PROFESSOR JAIME ANTÔNIO

"Uma entrevista exclusiva com o professor Jaime! Aqui, uma das figuras mais populares da ETEC Cidade Tiradentes fala um pouco de sua história, sua relação com a escola e como se tornou professor. Ele assume a popularidade e diz que “ama aquilo que faz”! Então, como ele mesmo diz: “vamos começar a sessão Lazer!”, com a palavra, Jaime Antônio!"


1)      Fale um pouco sobre sua vida, qual foi sua relação com a educação na infância, adolescência, e agora na fase adulta, como professor? Minha vida quando era lá garoto, lá pelos dez, onze anos de idade, ajudava meus pais catando sucata, ferro velho, nas ruas... Vendia sorvete na rua, e depois com uns doze ou treze anos, falei para mim mesmo que não iria continuar querendo aquilo para minha vida. Tudo bem, era honesto, dava para comer, mas falei que eu não iria querer mais aquilo para mim. Na época eu continuava estudando, e foi ali já com uns quinze anos que eu comecei a fazer o SENAI - eu falei para os meus pais que eu queria aprender uma profissão, então corri atrás e procurei fazer SENAI. Os meus pais me apoiaram e eu cursei Mecânica Geral. Aí através de concursos eu entrei na Arno, em 83, e vi que ali, através dos estudos, através da educação, era uma maneira da gente crescer - hoje em dia no nosso país -, que sem educação não somos ninguém; e em função disso eu continuei estudando. Entrei na Arno, trabalhei – acho que uns dois anos – na área de Operador de Máquina, depois fui pra Ferramentaria, e passei a ganhar um pouquinho mais, onde acabei sendo promovido, e tivemos aí muitos altos e baixos, né... Separação de pais... Aquela luta..., mas mesmo assim agente não pode se deixar desanimar, não é? Porque é aquilo que agente sempre passa pra vocês: na vida, cada um colhe aquilo que planta. Então foi onde eu vi que tinha que lutar e ser alguém, inclusive para os meus pais, pra poder ajudá-los. Com a ajuda deles me formei Engenheiro Mecânico, continuei trabalhando na área até 95, onde saí da área, só que eu já lecionava desde 92, na escola estadual. Aí me encontrei na área da Engenharia, e vi que dentro da área da Educação eu poderia estar contribuindo melhor. Aí foi quando eu saí da área em 95 e, já havia ingressado na Educação, complementei minha carga horária, e graças a Deus, até hoje...  Procuro aí... Fazer o melhor possível. Procurei continuar estudando... Fiz curso de inglês, fiz curso de física... Sou Físico e Engenheiro Mecânico, e agente tem sempre que procurar estar se especializando, porque, queira ou não, a tecnologia muda a cada dia - podemos dizer assim. E em função disso, para podermos falar a mesma língua que vocês, temos que estar atualizados. E, graças a Deus, agente faz aquilo que gosta, faz de coração e tenta fazer o melhor possível. E, graças a Deus, que hoje em dia, agente está sempre correndo atrás, a cada dia tentando melhorar.

2)      Se você se formou em exatas – Engenharia Mecânica e Física -, tendo a possibilidade de atuar em outro campo, por que escolheu a área da educação? Porque dentro da área da educação eu acabei vendo um retorno... – não vou dizer retorno financeiro, convenientemente, como nós gostaríamos, não é? – mas dentro da área da educação foi onde eu procurei viver podendo fazer algo pelo ser humano. Entendeu? Porque eu passei a ver o seguinte: muitas pessoas, muitos alunos, têm dificuldade. E dentro do fator de dificuldade, eu, na minha época de aluno, tive maus professores. E nesse fator de eu ter visto maus professores, eu procurei fazer o que? Procurei fazer com que vocês, alunos, viessem a ter o melhor. E dentro desse fator de terem o melhor, eu procurei ver o seguinte: o fator financeiro é ótimo, tem sempre a parte financeira do serviço. Mas, o melhor retorno que eu tenho hoje em dia, na minha vida, é uma palavra, um abraço, é vocês falarem ‘professor, você explica bem!’, ‘você conseguiu me ajudar’... Hoje em dia existem vários, vários, vários – nesses vinte anos de educação -, hoje eu encontro vários ex-alunos meus no shopping, passeando, viajando pros cantos da vida, e aí eles vem e falam tudo aquilo que agente procura passar pra eles, hoje faz parte da vida deles. Encontro hoje muitos já formados Engenheiro, Físicos e tudo o mais, então hoje eu posso ver que o fruto do meu trabalho está acontecendo a cada dia, a cada ano que passa. Então esse é o meu melhor retorno, poder ver o sorriso no rosto do meu semelhante. É amar aquilo que agente faz.

3)      O que você pensa sobre os jovens em relação à educação? Bom, hoje em dia, o que eu tenho visto – pelo menos em sala de aula -, dentro da área pública, da área municipal, da área privada, que, hoje em dia, muitos pais têm deixado a educação por conta de escola. E para o professor transmitir o conhecimento e ainda auxiliar na educação, nós acabamos nos sobrecarregando. Aqui você tem que ser professor, pai, psicólogo, tem saber de todas as maneiras e a cada instante, procurar entender a todo instante o outro, o porquê da reação do outro para com você, sendo que nossa função é apenas de querer ajudar, ? E a única maneira que nós conseguirmos melhorar, transformar esse nosso mundo da maneira que ta lá fora, da porta de casa pra fora, é através da educação. Não é isso? Só que nos necessitamos do que? Nós necessitamos de um auxílio mutuo: entre Estado, governo, pais. Unimo-nos para que nós tenhamos condições de fazer com que esse jovem - muitos jovens ainda - nos dias de hoje, venham sofrer gradativamente uma transformação; e assim passarem a ver o outro como um cidadão, como uma pessoa, que necessita de carinho, que necessita de uma palavra, de um abraço; e não que nem outro aí: só agressão, só violência... Não pensam no dia de amanhã. Eles esquecem que o que nos vamos escolher no dia de amanha depende de nossas escolhas no dia de hoje. E muitos nos dias de hoje, as atitudes deles estão sendo totalmente pervertidas, inversas. Não é? Então, quero dizer: a Educação é um caminho para a Transformação, e essa educação depende de um todo, de um conjunto de fatores. Lar, casa, escola, família, não é isso? De um todo. Aí assim, futuramente – é o que estamos lutando, fazendo por onde – teremos um mundo, um país bem melhor.

4)      Como você explica a sua popularidade, uma vez que a matéria de Física é vista como algo chato e muito difícil? Por quê? Dentro do fator ‘Física’, como vocês acabaram de dizer, o aluno tem muita dificuldade em pré-requisitos básicos: multiplicação, subtração, divisão,... Essas coisinhas básicas, que são o fundamental para que o aluno possa, gradativamente, entender determinados fatores. E hoje em dia, graças a Deus, devido à experiência de vida que eu tenho, sofrimento, convivência com todos os tipos de classes sociais, eu tenho essa facilidade pra conseguir associar a teoria de um determinado conteúdo, de uma determinada matéria, à aplicação prática. Aí, eu parei e pensei: “puta, a matéria é triste”. A matéria é difícil pra muitos, não é? Pra muitos ela se torna difícil, ela se torna complicada; aí, se o professor for ser mais chato ainda,... né? Querer ser aquela coisa rígida, aquela coisa que tem que ser engessada, aí é que não vai mesmo. Então eu, gradativamente, graças a Deus, nos dias de hoje, eu procuro fazer do meu trabalho um lazer. Hoje as minhas aulas são um lazer. Então hoje eu entro na sala brincando. Brinco, bagunço junto com vocês, e nessa brincadeira agente consegue, ali dentro de toda essa junção, ajudá-los, que é o nosso objetivo: o de tentar ajudar. Um dos fatores é devido ao fator profissional, porque a coisa já e chata, de repente, se a pessoa não tem uma certa noção... se for querer direto jogar conteúdo e resolver exercício, e isso, e aquilo, aí a barreira, ao invés de ela cair diante do aluno, aí é que ela vai aumentar a cada dia mais. Mas aí, fazendo desse jeito não: fazendo desse jeito agente faz com que aquela coisa que até então era seria chata, e ‘sem valor’ para o aluno, ali ele vai vendo que aquele conteúdo, aquela matéria faz parte do cotidiano dele. E na realidade a Física é o nosso dia-a-dia: agente vive Física, fala, anda, caminha, tudo é Física. E ela é pratica, ela acaba nos auxiliando no nosso dia-a-dia, no nosso cotidiano. Então é por isso que, hoje em dia, eu amo essa matéria, adoro aquilo que eu faço. E agente tenta expor no nosso rosto, na nossa fala, o que nós vivemos.

5)      De onde você tira inspiração para suas frases tão populares? Todos nós temos limites. E em cima disso, o que é que eu procuro fazer? Eu procuro fazer por onde tentar explicar, seja qual for o conteúdo, de vários caminhos possíveis. Porque para sairmos de um ponto e chegarmos a outro, nós temos vários caminhos diferentes a serem seguidos. Eu procuro explicar de todos os caminhos a serem seguidos, não é isso? Então se porventura um aluno achou um caminho mais fácil, o outro achou mais difícil; e vice-e-versa. Quero dizer, eu procuro fazer por onde tentar, de uma certa forma, envolver toda a sala. Você, procurando envolver toda a sala e tornar aquela coisa agradável, passa a ter a atenção do aluno, mesmo se ele vier a ter dificuldade na matéria, mas você passa a ter a atenção do aluno por outro caminho, por outra forma, e dessa maneira, por menor que seja, o mínimo possível necessário, eles conseguem assimilar. É gostoso fazer isso.

6)      Sabemos que participou do programa do Luciano Huck, no quadro “Lata Velha”. Fale-nos um pouco dessa experiência. Nossa,... Ali foi muito lindo... Foi muito gostoso... E a melhor experiência que agente leva da vida é que... (emocionado)... É que agente vê, né... Agente vê que... Nós não estamos sós. Agente não ta sozinho... A maior experiência que agente tem é, como eu disse pra vocês, é através de palavras, é... Isso pra mim é tudo. Agora eu fico muito grato... Muito grato com vocês por terem me escolhido para estar fazendo parte desta entrevista... Eu fico muito lisonjeado. Entendeu? Muito grato e contente. Porque agente acaba vendo que estas nossas atitudes que agente acaba tendo aí... Ao longo da vida, alguma coisa está sendo aplicada no cotidiano de vocês. E se eu acabei participando do programa Lata Velha não foi devido a minha atitude, porque eu não escrevi carta, eu não fiz nada. Quem escreveu, quem fez tudo foram os alunos. Foram pessoas como vocês, que acabam vendo a nossa vontade de fazer... De ajudar. Os alunos viram lá na frente da escola – eu casei, tava construindo casa, e tudo – e carro era luxo. Carro pra mim era luxo. E nessa brincadeira, dinheiro não sobrava. E na porta da escola o carrinho mais velho que tinha era o meu. Todo amarradinho de arame de um lado e de outro. E os alunos perguntaram se eu não ficaria chateado se eles mandassem uma carta para o Luciano Huck, e eu falei ‘claro que não!’, aí perguntaram a história do carro, aí eu falei que eu tinha ele há uns quatro ou cinco anos já, e devido ao fator financeiro - que queira ou não queira, é o que acaba pegando todo mundo, não é? -, eu não tinha condições de arrumar o carro. E aí eles mandaram carta, aquela coisa toda, e acho que uns quinze dias depois que mandaram carta a Rede Globo já começou a entrar em contato com agente. E aí foi onde eu vi que... A vida é linda, a nossa vida é muito 10, é uma vida linda... E essa experiência que eu vivi graças a vocês, graças aos nossos alunos, graças aquela despesa que eu tive, ? Fiquei uma semana no rio de janeiro, avião, hotel cinco estrelas, aquela férias que... Nossa, que só Deus pra ajudar agente, (risos)... São coisas assim que não tem dinheiro que pague na vida da gente. Ate hoje ‘ele’ ta aí comigo, já apareceu um monte de gente pra vender ‘ele’, levar ‘ele’ embora, num dou, num vendo (risos)... Esse é o nosso cartão de visitas, é o nosso cartão de visitas. E graças a Deus, primeiramente, e a cada um de vocês que têm estado ao nosso lado, é que nós temos cada dia mais força pra poder lutar, pra poder vencer, não ver barreira na frente, cada barreira, cada obstáculo que surge, tem que ser vista como um trampolim pra você poder lutar mais um dia, entendeu? Então é dessa maneira que eu vejo, por esse motivo que vocês vão sempre me ver sorrindo, brincando, sabe? É... Graças a Deus, graças a Deus.

7)      Deixe para nós uma reflexão a partir de sua história de vida. A reflexão que eu deixo para vocês, pelo menos dentro do meu ponto de vista, é que vocês sempre venham a andar de cabeça erguida, em qualquer que seja a circunstância, porque a vida do ser humano não é só flores. Temos luta, temos fins, barreiras, é complicado. Que vocês venham sempre a lutar, e ter um único objetivo de vida, que é: lutar sempre - não concluiu, tem que tentar -, vencer talvez, e desanimar desse nosso objetivo, jamais. Nunca, nunca desanimar dos nossos objetivos, daquilo que nós pretendemos buscar, alcançar, entendeu? Então continue sempre correndo, lutando. Ajudar seus pais, família, continuar sendo pessoas verdadeiras, de valor, entendeu? Nunca querer agradar ao outro, pense primeiramente em si próprio. Nós devemos viver a nossa vida a cada segundo como se fosse o último, certo? E assim, dessa maneira, agente vai agradar primeiramente a Deus, e depois ao outro, ao semelhante. Sem prejudicar ninguém. Não é não? Futuramente iremos encontrar vocês aí nesse mundo, futuros profissionais formados, independente do campo de atuação de cada um, aí vocês vão falar: “professor, valeu!”. Aí eu vou ficar contente como sempre tenho estado com vocês. Entendeu? E parabéns pra todo mundo!

"O professor Jaime ainda nos deu a honra de mais umas reflexões sobre sua vida, mais uns incentivos e comentou sobre o seu amor por exatas e aversão a humanas (sim, ele não esconde isso de nenhum aluno!). Obrigada pela entrevista, Professor Jaime!"

2 comentários:

isabella disse...

Parabéns pela entrevista!! Adoro o professor Jaime

Rafaela Reis disse...

Adoreii , por incrivel qee pareça ele me fez gostar de Física ! Ótima entrevista !

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